26.12.13

Quando os Olhos Pedem a Boca em Linguagem de Sinais

E você admira tudo aquilo que dá a ideia, mas não entrega. Você pensa maravilhas, divaga. Viaja, faz planos, anda de mãos dadas, cria um mundo platônico, passando as mãos pelos cabelos do desejo. 
Imagina dizer um monte de coisas, achando que o outro, telepaticamente, percebe suas emoções pelo seus olhos que brilham mais que de costume. Você passa a crer realmente que o outro tem tempo de reparar nisso, de reparar em você... 
Você fita lábios, ansiosa por uma palavra, uma piscada, um sorriso, um cumprimento. Mas o esperado jamais veio. E elogios dele, nunca ouviu. 
Você perambula pelo facebook, como carente sentimental ambulante. Vasculha fotos, se imagina nelas. É arquiteta de um mundo novo, de possibilidades, de um sonho. Os olhos funcionam, mas a fala nem tanto. Você não ouve mas também não fala. Esquece que a palavra têm também uma capacidade incrível de despertar a paixão no outro. Mas você nunca fala, você nunca ouve. Sempre pelos diversos motivos... 
Mas você ama em silêncio. Elogia por dentro o menos óbvio. Repara. Decora. Saberia dizer o que quase ninguém vê. Porque só quem gosta muito repara além do óbvio. Só quem celebra a presença do outro, enxerga de verdade – toda paixão começa nos detalhes. 
E depois que você se acostuma com a arte do esconde-esconde, ele vira vício. E seguindo a lei da ação e reação, quem não revela não é revelado. Você não age, passivamente apenas decora seu mundo particular. Inicia-se, então, esse processo mágico de viver no mundo platônico, a cada dia, suportando a vida no irreal, namorando aqueles detalhes que te apaixonam repetidamente no outro e – tua vida passa – e esse mundo fabuloso não lê seus olhos. Elogio não arranca pedaço, sinceridade não mata, reconhecer o especial faz parte da vida. 
Porque não falar nada é a coisa mais fácil do mundo. Enxergar beleza onde ninguém mais a enxerga, é talento de quem gosta, de quem vê além do óbvio. E é de pessoas assim que a gente se transformar ao se apaixonar na vida. 
No mais, temos a mania de economizar em palavras que tinham que ser ditas – tagarelas que somos, discursamos demais sobre o trivial e nos esquecemos de valorizar os detalhes lindos daquele ser que divagamos um dia ter ao nosso lado. Esquecemos de falar e de trazer para esse mundo, feito com carinho, amor, aquele que nos move. Olhos e bocas não falam o mesmo idioma.

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